sábado, 28 de novembro de 2009

A poluição sonora é uma forma de agressão ambiental que é frequentemente negligenciada até níveis muito prejudiciais. Reduzindo a nossa qualidade de vida e afectando os ecossistemas, os décibeis em excesso são um inimigo invisível.

Existem formas de poluição tão distintas como a poluição atmosférica, das águas, dos solos, a poluição genética, luminosa e sonora. Em comum a todas elas, há uma interferência, de origem antropogénica com efeitos negativos no meio e nos seres vivos.As primeiras três caracterizam-se pela contaminação dos respectivos meios com substâncias prejudiciais à vida. São por isso quantificáveis na razão da quantidade dessas substâncias presentes no meio. A poluição genética, decorre por exemplo do cruzamento de espécies domesticadas com espécies selvagens que lhe são próximas (é o caso da hibridação do gato-bravo com o gato doméstico). Neste processo pode perder-se um património genético irrecuperável. Também aqui é actualmente possível quantificar o grau de contaminação.A poluição sonora, tal como a luminosa e ao contrário das anteriores, não deixa resíduos, existindo apenas no momento em que está a ser produzida. Por este facto, são formas de poluição tendencialmente consideradas menos perigosas. No entanto, sabe-se que a exposição repetida a estas formas de agressão pode produzir efeitos crónicos e irreversíveis.


Os efeitos da poluição sonora são de resto ainda pouco estudados, porque é difícil estudar uma forma de agressão que só se manifesta como resultado de uma exposição prolongada e que por isso sofre a interferência de um elevado número de variáveis difíceis ou impossíveis de controlar.Na natureza, e no que toca a espécies selvagens, esta dificuldade é ainda maior porque, em regra, às perturbações sonoras estão invariavelmente associadas outras formas de perturbação. Vejamos este exemplo: quando se verifica que uma pedreira causa impactos negativos nas espécies que habitam nas imediações, é extremamente difícil quantificar qual a importância do ruído dos rebentamentos com dinamite face a todos os outros factores, como as poeiras ou o tráfego de máquinas e camionetas.

O potencial prejuízo causado por um som é independente de este agradar ou incomodar, quem o ouve. Inclusivamente, um ruído inicialmente incómodo pode, por habituação, passar a ser tolerado. Também se verifica que a tolerância para sons semelhantes é muito variável, sendo frequente uma pessoa sentir-se incomodada com o ruído de veículos automóveis numa estrada e sentir-se repousada com um ruído de intensidade semelhante produzido pelo mar ou por uma cascata.A própria definição de ruído é extremamente ambígua. Aquilo que pode ser música para alguns pode ser ruído para outros, ou mesmo aquilo que em algumas circunstâncias pode ser um som agradável, pode noutras tornar-se quase insuportável.Pelo contrário, o som pode definir-se objectivamente como ondas de pressão que se propagam através de um gás, como o ar, de um liquido, como a água, ou até de um sólido. De uma forma geral, o ouvido humano consegue detectar sons entre os 20 e os 20 000Hz. O Hertz é a unidade de frequência, que corresponde a um ciclo por segundo. Convencionou-se chamar aos sons abaixo da capacidade de detecção pelos humanos infra-sons e aos acima desse limiar ultra-sons.

A unidade de medida da intensidade do som é o Decibel (dB). Esta é uma escala logarítmica, em que se considera a unidade (1 dB) como o valor correspondente ao som mais baixo que o ouvido humano consegue detectar. Por esse facto, 10 dB correspondem a um som 10 vezes mais intenso que 1 dB, 20 dB 100 vezes mais intenso, 30 dB 1000 vezes e assim sucessivamente.Assim, o som produzido por uma aragem nas folhas de uma árvore poderá rondar os 10 dB; já o trafego em hora de ponta poderá atingir os 90 dB e igual valor o estrondo das cataratas de Niagara. Um martelo pneumático atinge os 100 dB e um avião a baixa altitude após a descolagem os 130 dB. Se atendermos a estes valores, e sabendo que o ouvido pode sofrer lesões a partir dos 85 dB, verificamos que qualquer habitante de uma grande metrópole está diariamente exposto a agressões múltiplas de consequências provavelmente irreversíveis. O efeito maligno do ruído não decorre apenas da sua intensidade, mas também da sua duração. Portanto, um trabalhador sujeito a um ruído de 75 dB é aconselhado, mesmo usando protecções, a não ultrapassar as 8 horas de exposição diárias. Atendendo à natureza da escala, se o ruído for de 78 dB o número de horas deve ser reduzido para metade. No limite, verifica-se que apenas quatro minutos de exposição a um som de 110 dB, um valor frequente em discotecas, pode causar danos definitivos na audição.Infelizmente, nos humanos as consequências da poluição sonora não se ficam pela perca de audição.

Ironicamente, enquanto não se perde, parte ou a totalidade desta, pode-se ficar sujeito a um role interminável de consequências ainda mais graves. A poluição sonora contribui para o agravamento da hipertensão, da taquicárdia e arritmia, e também para desequilíbrios dos níveis de colesterol e hormonais. É também um factor de stress, e por isso pode ser responsável por distúrbios do sono, dificuldade de concentração, perda de memória, outras perturbações psíquicas e até tendências suicidas.As consequências do ruído nos animais silvestres são em muito semelhantes às sofridas pelos humanos, e ainda piores em alguns casos. Muitos animais dependem directamente da audição para comunicar e para caçar, ou para evitar ser caçados. A diminuição destas capacidades acaba frequentemente por se fazer sentir ao nível da produtividade e de um elevado número de parâmetros fisiológicos. Os animais silvestres evitam zonas de grande poluição sonora como as grandes metrópoles.

Certamente que o ruído não é a única razão por que o fazem, mas é natural que tenha um peso considerável, com efeito sabe-se que os animais silvestres evitam o ruído por si só, vendendo-se inclusivamente no mercado máquinas para o produzir com a finalidade de espantar aves dos campos agrícolas. Em todo o caso, quando da utilização repetida destes mecanismos, como sucede por exemplo em alguns aeroportos, as aves acabam por se habituar e passam a ignorar o ruído. Mesmo assim, obviamente que pelo simples facto de os animais se habituarem ao ruído não podemos concluir que este não lhes é prejudicial.Actualmente a poluição sonora não se restringe sequer às zonas habitadas, chega efectivamente a quase todo o lado. Desde as imensidões geladas dos pólos, até às selvas mais remotas, as actividades humanas e consequentes ruídos fazem-se sentir, nem que seja através do número crescente de aviões que cruzam os céus.Ao nível dos oceanos, o problema parece ser ainda mais grave.

Por um lado, e pelo facto dos mares e oceanos não serem habitados por humanos, não se investe quase nada na redução do ruído produzido nesse meio. Por outro lado, a propagação do som na água faz-se não só mais rapidamente, como até maior distância do que no ar.Os oceanos albergam ainda animais, com características particulares associadas ao som, como os cetáceos (baleias, golfinhos) que estão dotados de sonar, e que dependem deste sistema de eco-localização para se alimentar e se orientar. Pensa-se que interferências neste apurado sentido possam estar na origem da colisão de cetáceos com redes de pesca, ou dos cada vez mais frequentes erros de navegação que os levam a encalhar em praias e baixios.

A poluição sonora está efectivamente na origem de um enorme número de problemas para todos aqueles que de uma forma ou de outra beneficiam do maravilhoso sentido da audição. O primeiro passo na procura de uma solução para esta questão passa pela tomada de consciência de que este é um problema em que somos a causa, uma das vítimas, e a única solução.

Ficha de espécies: Coruja-do-nabal

A Coruja-do-nabal é uma ave de rapina nocturna, rara no nosso país, pois só aparece entre nós fora da época reprodutora. Pouco se sabe da situação nacional desta espécie, apesar das populações europeias se encontrarem em declínio.


IDENTIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS

A Coruja-do-nabal (Asio flammeus) está incluída na ordem Strigiformes, família Strigidae. É uma ave de rapina nocturna de tamanho médio, com cerca de 40 cm de comprimento e pesa entre 250 e 400 g. Quando se observa poisada (muita vezes no chão ou sobre um arbusto baixo) é fácil de reconhecer pela sua postura algo horizontal. Tem umas “orelhas” (tufos de penas) muito curtas, quase invisíveis. A plumagem é de tons acastanhados, fortemente malhada, e a face apresenta olhos muito amarelos, rodeados por uma mancha negra, que a tornam inconfundível. Em voo é difícil de distinguir do Bufo-pequeno (Asio otus), mas apresenta tons mais claros, sobretudo no peito e ventre. Entre nós esta coruja é muito silenciosa, e por isso o canto não constitui uma característica útil na sua identificação.

DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA

Trata-se de uma espécie bastante rara em Portugal, onde surge no decurso das suas migrações e durante a invernada. Observa-se de norte a sul do território continental, mas é aparentemente mais frequente nas zonas litorais, particularmente junto às grandes zonas húmidas do centro e sul. No Arquipélago da Madeira também parece ocorrer com alguma regularidade.
ESTATUTO DE CONSERVAÇÃO
Pouco se sabe sobre a problemática da conservação desta espécie rara em Portugal. Na Europa sofreu um decréscimo acentuado devido à destruição do habitat, e talvez também como resultado da perseguição directa. No nosso país esta ave é abatida com alguma frequência por caçadores que patrulham as zonas húmidas. O seu hábito de permitir uma aproximação considerável aos seus locais de repouso, levantando apenas “à última da hora”, faz com que seja uma presa fácil de caçadores pouco escrupulosos.

HABITAT
Esta coruja mostra uma clara preferência pelos grandes espaços abertos, evitando bosques e zonas humanizadas. É mais abundante nas várzeas e lezírias junto a grandes zonas húmidas litorais, frequentando sapais, salinas, caniçais, terrenos alagadiços, pastagens com valas, arrozais e outros campos agrícolas. Outras áreas de invernada localizam-se nas zonas cerealíferas do Alentejo. Durante as migrações também surge com alguma regularidade em escarpas litorais.
ALIMENTAÇÃO

Em grande parte da sua área de distribuição a Coruja-do-nabal é um especialista em pequenos mamíferos, sobretudo roedores, mas também insectívoros. Em Portugal, num único estudo detalhado da sua alimentação efectuado no Estuário do Sado, verificou-se que, para além dos pequenos roedores, os insectos aquáticos (essencialmente Coleópteros) também são presas muito frequentes.


REPRODUÇÃO
Nas suas áreas de reprodução no norte e centro da Europa, a Coruja-do-nabal nidifica em áreas relativamente abertas, e com um uso do solo pouco intensivo. O ninho é feito no chão, escondido pela vegetação, como por exemplo por entre ervas altas, caniços ou urzes. O número de ovos é bastante variável, sendo função da abundância de presas. As posturas mais frequentes contam com 4 a 8 unidades, mas excepcionalmente podem chegar a 16. A incubação, realizada sobretudo pela fêmea, tem uma duração de 24 a 29 dias. Os juvenis podem abandonar o ninho muito cedo, mesmo antes de aprenderem a voar.
MOVIMENTOS
A migração das Corujas-do-nabal em Portugal inicia-se com a chegada das primeiras aves no final de Setembro. As corujas são mais abundantes de Novembro a Março, e as últimas aves desaparecem em Abril. As aves que surgem entre nós deverão ser originárias da Europa Central e do Norte, como comprova a recaptura em Portugal de um indivíduo desta espécie anilhado na Alemanha.

LOCAIS DE OBSERVAÇÃO

Os estuários do Tejo e Sado e a Ria de Aveiro são provavelmente os locais nacionais mais propícios à observação desta espécie. Orlas de caniçais, sapais e salinas podem revelar-se particularmente favoráveis. Ao contrário do que se passa em grande parte da sua área de distribuição, onde esta coruja apresenta actividade diurna, em Portugal esta espécie é fundamentalmente crepuscular ou nocturna. Os primeiros minutos após o pôr-do-sol são talvez os melhores momentos para a detectar.

CURIOSIDADES

No final do século passado, foi detectado em Portugal e em Espanha um parente próximo da Coruja-do-nabal, a Coruja-moura Asio capensis. Actualmente esta última espécie parece ter desaparecido definitivamente da Península Ibérica.

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Petição para pôr fim à comercialização de espécies de peixes de profundidade

Ajuda-nos a proteger um dos últimos refúgios da vida marinha do planeta!
Assina a petição aos supermercados para pôr fim à comercialização de espécies de peixe de profundidade.Os habitats do mar profundo alojam criaturas misteriosas, frágeis e de crescimento extremamente lento.
Escandalosamente, fora do nosso alcance físico e visual, navios de pesca industrial de meia dúzia de países, entre eles Portugal, estão a destruir a uma velocidade estonteante estes oásis das profundezas, por um retorno económico irrisório a nível global.
A pesca de profundidade é uma actividade inerentemente destrutiva, insustentável e ainda ineficiente. Muitas das espécies capturadas nem são utilizadas para consumo e são devolvidas ao mar já sem vida ou moribundas, enquanto os seus habitats foram irremediavelmente danificados pelo equipamento usado.
Pede aos supermercados classificados a vermelho no 2º Ranking da Greenpeace que assumam as suas responsabilidades e garantam que não vendem espécies capturadas a grande profundidade em alto mar.
Podes obter mais informação sobre esta campanha no site da Greenpeace:http://www.greenpeace.org/portugal/

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Ficha de Espécies - O Sacarrabos

Provavelmente introduzido na Península Ibérica pelos árabes, o Sacarrabos é um carnívoro diurno de médio porte, comum na metade sul do País. É conhecido pela sua capacidade de capturar cobras e pela sua forma peculiar de deslocação em grupo.

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS

O Sacarrabos Herpestes ichneumon é um carnívoro de médio porte castanho-acinzentado que, juntamente com a Geneta, representam a família Viverridae no nosso país. Também conhecido por mangusto, manguço ou escalavardo, tem um corpo alongado e de aspecto fusiforme, o focinho é pontiagudo, as patas são curtas e a cauda vai-se afunilando até à sua extremidade onde se encontra um pincel de pelos mais escuros. Tem uma altura no garrote de aproximadamente 20 cm, pesa 2-3 Kg, e tem um comprimento total de cerca de 90 cm, podendo a cauda chegar aos 50 cm. Na cabeça distinguem-se umas orelhas pequenas e arredondadas e uns olhos côr de âmbar que têm a particularidade de exibir uma pupila horizontal, caso quase único entre mamíferos e que revela hábitos diurnos. Não existe um dimorfismo sexual evidente entre machos e fêmeas embora os primeiros sejam um pouco maiores.

DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA

Esta espécie, que se pensa que tenha sido introduzida na Península Ibérica pelos árabes, tem origem etiópica e está presente na maior parte do continente africano e na Ásia Menor. Foi também recentemente introduzida numa ilha jugoslava. Na Península Ibérica está distribuida principalmente a SW. No nosso país é relativamente abundante no sul e o a norte já chega pelo menos à Serra da Estrela. Depois de um período em que deve ter sofrido uma regressão na primeira metade do século XX (a 'campanha do trigo' que devastou muito matagal mediterrânico), a espécie parece estar agora em alguma expansão provavelmente devido a 3 factores: o abandono de terras agrícolas e o ressurgimento de alguns matagais; a quase ausência dos seus predadores como o Lince-ibérico; por ter actividade principalmente diurna não compete directamente com outros predadores pelos mesmos recursos.

ESTATUTO DE CONSERVAÇÃO
Não ameaçada. É uma espécie cinegética de caça menor que pode ser caçada a salto ou de batida (entre Jan-Fev). Pode ainda ser abatido no controlo de predadores.

HABITAT


É um típico habitante dos matagais mediterrânicos, com subcoberto bastante denso (o seu focinho pontiagudo facilita-lhe a deslocação neste tipo de habitat) e, em geral, nas proximidades de linhas de água. Geralmente como toca utiliza luras abandonadas de coelhos que alarga com as fortes garras que possui nos cinco dedos.

ALIMENTAÇÃO
O sacarrabos tem reflexos bastante rápidos o que lhe permite capturar ofídeos (cobras), inclusivé as espécies venenosas. No entanto, as suas principais presas são os pequenos mamíferos, nomeadamente os roedores e, sempre que disponíveis, também os lagomorfos (coelhos e lebres). Por ter hábitos diurnos, os répteis são também uma parte importante do seu espectro alimentar que inclui ainda insectos, anfibios, aves e matéria vegetal com valor energético.

REPRODUÇÃO
A época de acasalamento ocorre na Primavera seguindo-se um período de gestação de 84 dias, nascendo 2-4 crias entre Junho e Agosto. Os machos são poligâmicos podendo fecundar várias fêmeas. As crias ficam com a mãe até ao nascimento da ninhada seguinte, chegando a formar grupos de 7-9 indivíduos.

MOVIMENTOS
As áreas vitais do sacarrabos variam entre 0,5 e 5 Km2. A defesa efectiva dos territórios restringe-se ao espaço em redor dos seus abrigos.
CURIOSIDADES

As crias seguem a mãe em fila-indiana, cada uma com o focinho por baixo da cauda da que a precede, daí o nome sacarrabos (esta maneira peculiar de se deslocarem até levou ao equívoco de lhes chamarem cobra peluda). Também quando caçam em grupo, os sacarrabos apresentam a particularidade de rodearem a presa deixando-lhe poucas hipóteses de escapar.

LOCAIS FAVORÁVEIS DE OBSERVAÇÃO

O facto de ter hábitos diurnos e de ser relativamente abundante no sul do país torna a sua observação mais fácil que a dos outros carnívoros já apresentados (lince, raposa, geneta). Um passeio ao longo de uma linha de água será sempre uma boa ideia seguindo as indicações das fichas anteriores.