segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

Ficha de espécies - O Pisco-de-peito-ruivo

O Pisco-de-peito-ruivo é um pequeno e atraente passeriforme, bem conhecido pela sua mancha alaranjada que lhe ornamenta o peito. É uma das aves portuguesas que mais alegra os dias de Inverno, com o seu canto melodioso e persistente.


IDENTIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS

O Pisco-de-peito-ruivo Erithacus rubecula é um pequeno Passeriforme da família Turdidae. Tem cerca de 14 cm de comprimento (mais ou menos como um Pardal), e pesa entre 15 e 20 gramas. É uma das aves portuguesas mais fáceis de identificar. Geralmente observa-se saltitando pelo chão (por vezes imobilizando-se com uma pequena "vénia"), ou poisado nos ramos baixos de uma árvore, adoptando sempre uma posição muito vertical com o corpo. Tem no peito uma grande mancha côr-de-laranja bem demarcada, que se estende até à face. As restantes partes inferiores são de um branco sujo, e por cima é de um castanho uniforme. As aves jovens são malhadas de castanho por baixo, e não apresentam tons alaranjados. É impossível distinguir os machos das fêmeas com base na morfologia externa, embora os primeiros sejam, em média, ligeiramente mais corpulentos. As suas vocalizações são consideravelmente variadas. O canto é muito melodioso, variado, e por vezes um pouco melancólico. É muito vocal, e pode fazer-se ouvir durante quase todo o ano. Para além do canto propriamente dito, emite chamamentos que podem soar como tic-tic-tic-tic, ou szziiiii.

DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA

É uma ave tipicamente europeia, embora também ocorra no Médio Oriente e Norte de África. Em Portugal a sua distribuição é variável, conforme a altura do ano. No Outono/Inverno encontra-se por todo o lado, das montanhas às cidades, do norte ao sul, e do interior ao litoral. Na Primavera/Verão tem uma distribuição alargada a norte do Tejo, mas a sul é escasso, concentrando-se nas regiões mais húmidas e próximas do litoral. Encontra-se, por exemplo, nas Serras da Arrábida, Grândola e Monchique. Na Madeira e na maioria das ilhas do Açores está presente todo o ano. É uma ave muito abundante (uma das mais abundantes no país), sobretudo durante a época fria.

ESTATUTO DE CONSERVAÇÃO

Comum como é, por toda a Europa, esta ave não suscita quaisquer preocupações no que diz respeito à sua conservação, tanto a nível nacional como internacional. Isto apesar de ser fácil de apanhar em armadilhas ("ratoeiras"), e portanto tradicionalmente bastante perseguido no campo. Esta perseguição ainda hoje se verifica, apesar do Pisco-de-peito-ruivo ser, como quase todos os pequenos Passeriformes, protegido por lei.

HABITAT

Tanto de Verão como de Inverno o Pisco-de-peito-ruivo surge numa enorme variedade de habitats, desde que tenham algum grau de cobertura arbórea ou apenas arbustiva. Encontra-se desde as matas agrestes no alto das serras do norte até ao centro das grandes cidades. No norte e centro tanto pode ser abundante em matas de folhosas como em coníferas. No entanto, nas áreas de invernada do sul é bastante mais numeroso em áreas de montado do que em pinhais. Nesta época também é extraordinariamente abundante em áreas de matagal mediterrânico, como os da Serra da Arrábida, e em olivais. Em regiões muito abertas, à partida inóspitas para a espécie, coloniza facilmente pequenas sebes ou qualquer vegetação que proporcione um abrigo mínimo. Durante a reprodução prefere zonas sombrias e com alguma humidade, como bosques fechados, jardins frondosos e matas ribeirinhas.

ALIMENTAÇÃO

Na Primavera/Verão o Pisco é quase exclusivamente insectívoro. Na verdade esta designação genérica significa que se alimenta não só de insectos, mas também de pequenas aranhas e outros invertebrados. Durante o Outono e Inverno, particularmente no sul da Europa, incluindo Portugal, torna-se parcialmente ou totalmente frugívoro. Nesta altura as suas fezes são negras ou côr de vinho, das cascas e polpas dos pequenos frutos ou bagas que ingeriu. Alimenta-se então das bagas de muitas espécies dos matagais mediterrânicos, como zambujeiros (ou oliveiras), aroeiras, medronheiros, madressilvas e folhados, entre outros. Nas áreas de montados ingere frequentemente partes de bolotas que foram parcialmente despedaçadas por outros animais. No norte da Europa também aceita alimentos sintéticos que lhe são oferecidos pelos amigos dos pássaros. Em períodos particularmente difíceis podem mesmo aventurar-se a apanhar minúsculos peixes em pequenos cursos de água.

REPRODUÇÃO

A nidificação desta espécie quase não foi estudada em detalhe em Portugal, havendo ainda muito por descobrir. Sabemos que a maioria cria de Abril a Julho, mas ocasionalmente podem ser observados ninhos activos no Outono ou mesmo em pleno Inverno. Por exemplo, o ornitólogo inglês William Tait observou uma ave jovem recentemente saída do ninho em 4 de Janeiro de 1884, nas imediações do Porto. Esta espécie é monogâmica e territorial. Os ninhos podem localizar-se em buracos no solo, taludes, muros, por entre raízes de árvores velhas e no interior de casas abandonadas. O ninho é volumoso, com uma base feita de folhas secas, e uma "tijela" central de musgo, ervas e pequenas folhas, revestida de material mais fino, incluindo cabelos, fibras vegetais e ocasionalmente penas. A postura geralmente é constituída por 4 a 6 ovos brancos ou ligeiramente azulados, com um número variável de pequenas manchas avermelhadas. A incubação dura 13 a 14 dias, e as crias permanecem no ninho em média cerca de 13 dias antes de o abandonarem.

MOVIMENTOS

Os Piscos-de-peito-ruivo que nidificam em Portugal são provavelmente quase todos sedentários. Por outro lado, os que aqui vêm apenas para passar o Inverno, são migradores bastante notáveis. Muitos são originários da Escandinávia, ou mesmo da Rússia. Muitos outros provêm da Europa Central e Ocidental. As primeiras aves migradoras geralmente surgem na última semana de Setembro e a espécie torna-se abundante logo desde o princípio de Outubro. Em Março dão-se a maior parte das partidas de volta às áreas de reprodução, embora algumas aves possam ainda permanecer nos territórios de invernada até ao princípio de Abril. Muitos dos Piscos invernantes voltam aos mesmos locais de invernada em Portugal de uns anos para os outros, conforme foi possível confirmar graças a estudos de anilhagem.

LOCAIS DE OBSERVAÇÃO

Pelo menos durante o Inverno, o Pisco-de-peito-ruivo pode observar-se em qualquer local, incluindo parques e jardins nas vilas e cidades.

CURIOSIDADES

Este é um dos poucos Passeriformes europeus em que as fêmeas cantam regularmente, durante o Inverno, com vocalizações muito semelhantes às dos machos. Os níveis de hormonas masculinas nas fêmeas são então muito elevados. Provavelmente graças a isto, tantos os machos como as fêmeas podem defender territórios nas áreas de invernada.

BIBLIOGRAFIA

Catry, P., R. Rebelo, M. Lecoq 1 A. Campos (1999). Diferenças marcadas na actividade vocal de piscos Erithacus rubecula invernantes em biótopos distintos. Resultados preliminares. Actas do II Congresso de Ornitologia da SPEA. SPEA, Lisboa.

Cuadrado, M. (1995). Site fidelity and territorial behaviour of some migratory passerine species overwintering in the Mediterranean area. Tese de Doutoramento, Universidade de Lund.

Lack, D. (1945). The life of the robin. Whiterby, London.

Rufino, R. (Coord.) (1989). Atlas das aves que nidificam em Portugal Continental. CEMPA. SNPRCN, Lisboa.

Schwabl, H. (1992). Winter and breeding territorial behaviour and levels of reproductive hormones of migratory European robins. Ornis Scandinavica 23: 271-276.

Snow, D.W. e C.M. Perrins (1998). The Birds of the Western Palearctic. Concise Edition. Oxford University Press, Oxford.

sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Portugal é 2º país europeu com frota automóvel mais eficiente em termos de emissões de carbono

Portugal perde o 1º lugar no ranking das emissões de carbono dos carros novos vendidos em 2009, mas mantém o 2º lugar no quadro dos 27 países da União Europeia.


De acordo com um relatório publicado hoje pelo T&E - Federação Europeia dos Transportes e Ambiente, Portugal é no quadro dos 27 países da União Europeia o segundo com menor valor médio (134 gCO2/km) de emissões de CO2 nos veículos automóveis novos vendidos em 2009, a seguir à França. Tal prende-se com o facto de os portugueses, face ao seu poder de compra, serem muito sensíveis ao preço do veículo e ao seu consumo de combustível. Entre 2006 e 2008, Portugal esteve no primeiro lugar da tabela.

Francisco Ferreira, Vice-Presidente da Quercus disse: «Os dados de Portugal em comparação com o resto da Europa são animadores no combate às emissões de gases de efeito de estufa causadores das alterações climáticas, apesar de desaceleração na nossa melhoria de eficiência. Pena é que Portugal com uma frota automóvel nova eficiente a esteja a renovar tão lentamente e que os portugueses usem demasiado o carro nas deslocações casa-trabalho.»

Em 2009, a redução das emissões de carbono por quilómetro nos novos veículos ligeiros foi variável entre os países da Europa. Portugal conseguiu a menor taxa de redução de emissões de carbono (3,6%) da Europa Ocidental, enquanto a Irlanda atingiu 7,9% de redução. Os países do Centro e Leste da Europa conseguiram reduções de emissões de carbono nos veículos ligeiros inferiores à média europeia. A República Checa e a Roménia são, pelo segundo ano consecutivo, os dois únicos países europeus com a pior eficiência no consumo de combustível nos novos veículos ligeiros.

Francisco Ferreira sublinhou que é preciso notar que «Portugal continua a ter um peso muito grande do sector rodoviário nas emissões poluentes». Sendo o sector dos transportes um dos que mais contribui para o crescimento das emissões de carbono, Francisco Ferreira desafiou o Estado e as empresas a estimularem mais o transporte público, incluindo o passe como regalia complementar em vez do automóvel, como forma de assumir efectivamente um real compromisso com uma política de sustentabilidade ambiental.

No final de 2008, foi aprovada legislação Europeia que limita as emissões médias dos veículos novos vendidos na União Europeia a partir de 2012. O relatório agora apresentado pela T&E vem mostrar que os diferentes desempenhos dos fabricantes de automóveis indiciam que o efeito desta legislação já se está a fazer sentir mesmo antes de 2012.

Jos Dings, presidente da Federação Europeia para os Transportes e Ambiente, comentou: "Esse relatório mostra que a grande melhoria conseguida na eficiência de combustível nos novos veículos não foi apenas o reflexo da diminuição do tamanho dos veículos, mas sobretudo da aplicação de novas tecnologias. Portanto, a tendência da redução das emissões de carbono nos novos veículos ligeiros é estrutural e continuará, portanto, quando o mercado regressar à normalidade. O regulamento europeu sobre os limites de emissão de carbono nos novos veículos ligeiros funciona e está a conduzir a indústria automóvel para o caminho da sustentabilidade ".



Fonte: http://www.quercus.pt/

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Ficha de espécies - O gato bravo

O gato-bravo é um dos mais belos e interessantes carnívoros da nossa fauna. Maior e mais robusto do que o gato-doméstico, encontra-se particularmente ameaçado pela poluição genética que resulta da sua hibridação com este.

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS

O gato-bravo (Felis silvestris) é um carnívoro de médio porte pertencente à Família dos Felídeos e é mais robusto e de feições mais rudes que o gato doméstico. A sua pelagem densa apresenta uma coloração variável, podendo ser cinzenta, castanho clara ou, mais raramente, melânica (negra ou quase). Tem umas riscas negras características nos flancos e extremidades e, ao contrário do gato doméstico listado ou malhado, não tem pintas no corpo. A sua cauda é grossa, peluda e relativamente curta, com 3 a 5 anéis largos e negros, sendo a extremidade arredondada e também negra. A cabeça é arredondada e volumosa, com focinho curto e mandíbulas robustas. As orelhas são curtas e arredondadas, os olhos são grandes e geralmente verdes. As patas são curtas e estão dotadas de poderosa musculatura e grande flexibilidade.

O corpo varia entre os 52 e 65 cm de comprimento nos machos e entre 48.5 e 57 cm nas fêmeas. O comprimento da cauda varia entre 25 e 34.5 cm. Os machos pesam em média 5 Kg e as fêmeas 3.5 Kg, não ultrapassando os primeiros 7.7 Kg e as segundas 4.95 Kg. Têm variações sazonais no seu peso, que podem ser de 2.5 Kg nos machos e 2.15 kg nas fêmeas.

DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA

Actualmente, o gato-bravo encontra-se na Europa em regiões bem distintas: Pirinéus e Península Ibérica, Apeninos e Sul de Itália, uma região no centro da Europa que inclui o Nordeste da França, uma parte da Bélgica e outra da Alemanha, Norte da Escócia, as grandes ilhas mediterrânicas (Sicília, Sardenha, Córsega e Creta), Balcãs e Cárpatos, Ásia menor e Cáucaso.

Em Portugal existe tanto no Norte como no Sul, estando a sua presença confirmada em muitos Parques Naturais. No nosso país esta espécie parece ser pouco abundante e a sua tendência populacional é desconhecida.

ESTATUTO DE CONSERVAÇÃO

Em Portugal tem o estatuto de indeterminada (I), ou seja é uma espécie que se sabe estar ameaçada, mas para a qual a informação é insuficiente para identificar a categoria apropriada. Pertence ao Anexo II da convenção de Berna (espécie estritamente protegida), ao Anexo IIA da convenção de Washington (CITES) e está abrangida pelo Dec. Lei 311/87.

FACTORES DE AMEAÇA

A hibridação com o gato doméstico é considerada como um dos maiores factores de ameaça para esta espécie em grande parte dos países europeus. Outros factores de ameaça importantes são: a fragmentação das populações devido à construção de vias rodoviárias, ao desenvolvimento de culturas intensivas e à desflorestação; a destruição do habitat devido principalmente aos incêndios e ao recurso à silvicultura monoespecífica; o controlo de predadores e a escassez de informação biológica e ecológica existente sobre esta espécie no nosso país.

HABITAT

De um modo geral o seu habitat preferencial é o bosque caducifólio. No sul da Europa está principalmente associado a matagais mediterrânicos, florestas e bosques caducifólios ou mistos e, marginalmente, a florestas de coníferas. Estudos efectuados sobre a selecção do habitat, inclusivamente em Portugal, revelaram que o gato-bravo tem preferência por bosques associados às linhas de água assim como por pinhais, que parecem ser bons locais de repouso.

Durante o dia refugia-se em buracos de árvores, fendas nas rochas e em tocas abandonadas de texugo, raposa ou coelho. Durante os meses quentes de Verão pode permanecer ao ar livre, procurando o fresco e o refúgio que a floresta lhe oferece.

ALIMENTAÇÃO

O gato-bravo é um predador oligófago, dependendo a sua alimentação não de um espectro limitado de presas mas sim da região em que se encontra. A base da sua dieta é constituída por pequenos roedores. Consome também lagomorfos (lebre e coelho), aves e com menor frequência anfíbios e répteis. Esporadicamente pode consumir peixes e também insectos.

Confia nos seus reflexos e agilidade para surpreender as presas e prefere caçar em terrenos abertos do que em floresta densa. Um gato-bravo adulto consome em média 400 a 500 g de alimento por dia.

REPRODUÇÃO

Entra no cio entre Janeiro e Março, dependendo da localização geográfica, e os acasalamentos ocorrem no final do Inverno e na Primavera. Pensa-se que os machos mais competitivos copulam com várias fêmeas na mesma época reprodutora. Dois terços dos nascimentos verificam-se do meio de Março até ao final de Abril, sendo a gestação de 63 a 68 dias. Tem uma ninhada por ano, da qual em média nascem entre 3 e 4 crias. O aleitamento verifica-se até ás 6-7 semanas, mas as crias podem mamar esporadicamente até ao quarto mês. Nesta altura começam aos poucos a ganhar independência e passado pouco tempo procuram um novo território.

As fêmeas são sexualmente maturas entre os 9 e 10 meses e os machos com 1 ano de idade. Em liberdade pode viver até aos 11 anos.

MOVIMENTOS

É principalmente crepuscular e nocturno, tendo os olhos perfeitamente adaptados para ver na escuridão e um sentido de audição muito desenvolvido. É solitário, sendo feroz e intransigente frente a outros congéneres quando se trata de defender o seu território e só se mostra social no período nupcial. As fêmeas são mais territoriais e combativas, especialmente durante a época de criação. Os machos são nómadas e sobrepõem os seus movimentos ás áreas vitais de várias fêmeas. Durante a época de reprodução restringem-se a uma área vital na floresta. Os territórios de gato bravo variam entre 0.6 e 3.5 Km2, mas em Portugal, os estudos efectuados apontam para territórios maiores (entre 10 e 12 Km2).

CURIOSIDADES

Uma prova do apurado sentido de olfacto e excelente sentido de audição deste animal, é o caso de uma fêmea que estava a ser seguida por telemetria e que ficou cega durante um Inverno rigoroso devido à neve. Mesmo sem visão, conseguiu atravessar a maior parte do seu território e sobreviveu em condições razoáveis.

LOCAIS FAVORÁVEIS DE OBSERVAÇÃO

O gato-bravo é uma espécie dificilmente observável no seu habitat natural devido aos seus hábitos nocturnos. Fazem latrinas (locais onde acumulam os dejectos) em locais proeminentes do terreno e enquanto que no interior do território enterram os dejectos, na sua periferia deixam-nos a descoberto. Estes são reconhecíveis por serem bastante compactos, pela ausência de estrangulações e por um dos extremos terminar numa ponta muito fina. São constituídos por pequenos pedaços que medem entre 1.5 e 8 cm de comprimento e 1.8 a 3cm de diâmetro. Afiam as unhas em árvores e arbustos deixando nestes as marcas das garras. As suas pegadas são constituídas pelas marcas de 4 dedos (cujas garras não estão marcadas) e por uma almofada principal trilobada. São normalmente maiores que as de gato doméstico.


Fonte: Naturalink.sapo.pt

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Incêndios Florestais - Autoprotecção


Os incêndios florestais são uma das principais catástrofes em Portugal. Constituem  uma fonte de perigo para as pessoas e bens, além de provocarem danos ambientais graves. As causas são muito variadas, mas muitos ocorrem por descuido humano.

Siga as medidas de autoprotecção descritas aqui e divulgue-as.

Se estiver próximo do incêndio:
  • ligue de imediato para o 112 ou para os Bombeiros da área;
  • se não correr perigo tente extingui-lo com pás, enxadas ou ramos;
  • não prejudique a acção dos Bombeiros e siga as suas instruções;
  • retire a sua viatura dos caminhos de acesso ao incêndio;
  • se notar a presença de pessoas com comportamentos de risco, informe as autoridades.
Se o incêndio estiver perto da sua casa:
  • avise os vizinhos.
  • corte o gás e a electricidade.
  • molhe abundantemente as paredes e os arbustos que rodeiam a casa.
  • solte os animais, eles cuidam de si próprios.
  • em caso de evacuação ajude a sair as crianças, idosos e deficientes.
  • não perca tempo a recolher objectos pessoais desnecessários.
  • não volte atrás por motivo algum.
Se ficar cercado por um incêndio. O que fazer?
  • saia na direcção contrária à do vento.
  • refugie-se numa zona com àgua ou com pouca vegetação.
  • cubra a cabeça e o resto do corpo com roupas molhadas.
  • respire junto ao chão, através de roupa molhada, para evitar inalar o fumo.
  • aguarde a chegada dos Bombeiros se não conseguir sair sozinho.
Em caso de queimadura, passe-a por água fria. Nunca use gorduras.

Depois do incêndio:
  • Há perigo de reacendimento. Impeça as crianças de brincar no local.
  • Colabore com as autoridades sempre que lhe solicitarem ajuda nas operações de rescaldo e vigilância.
  • Se houver evacuação regresse só quando os Bombeiros lhe disserem que o pode fazer.
  • Assegure-se de que a sua casa não está em risco de ruir. Tenha cuidado com fios eléctricos expostos e outros perigos.
Tenha em casa um RÁDIO A PILHAS. Esteja sempre atento às informações difundidas pela rádio.
 
Agir com Cuidado é a melhor forma de o Prevenir.
Colabore, a protecção começa em si.

Telefones úteis:
112 - Número de emergência

Para mais informações consultar  http://www.snbpc.pt/

sábado, 26 de junho de 2010

Estudo: Golfinhos escolhem as presas de acordo com o seu valor energético

Ao contrário do que se pensava até agora, os golfinhos comuns não são oportunistas i.e., não se alimentam de acordo com a disponibilidade de presas, seleccionado os peixes com maior conteúdo energético por grama de peso.


No Reino Animal existem diferentes estratégias de alimentação vão desde a especialização – quando os animais se alimentam exclusivamente de um tipo de alimento – até ao generalismo – que se caracteriza pelo consumo de uma grande variedade de alimentos.

Estes constituem os extremos de um espectro que inclui uma infinidade de formas intermédias como é o caso da especialização ou do generalismo sazonais, em que uma dada estratégia alimentar é característica da espécie apenas em determinada estação do ano, não se verificando nas restantes.

Tendencialmente os animais generalistas são também oportunistas i.e., escolhem os alimentos de acordo com a sua disponibilidade no momento. Até agora, pensava-se que os golfinhos comuns pertenciam a este grupo de animais.

No entanto, um estudo recentemente publicado na revista Journal of Experimental Marine Biology and Ecology sugere que tal não é verdade.

A equipa liderada por Jerome Spitz, da Universidade de Rochelle, em França, analisou os conteúdos estomacais de vários exemplares de golfinho comum, Delphinus delphis, acidentalmente capturados nas redes de pesca de atum no Golfo da Biscaia.

Os resultados revelam que os animais escolhem activamente os peixes de que se alimentam preterindo, por exemplo, peixes com menos de 5KJ de energia por grama de peso, apesar de serem os mais abundantes.

Com efeito, as três espécies mais abundantes - Xenodermichtys copei, Serruvomer beanii e Stomias boa ferox com um conteúdo energético de 2,2KJ/g, 2,1KJ/g e 2,8KJ/g, respectivamente - foram significativamente menos consumidas que Notoscopelus kroeyeri e Benthosema glaciale, que fornecem 7,9KJ e 5,9KJ de energia por grama de peso.

Outros estudos realizados com uma espécie diferente de golfinho – Stena coeruleoalba – obtiveram resultados semelhantes.

Os autores sugerem que esta selectividade por parte dos golfinhos pode ser explicada pelas suas elevadas necessidades energéticas que advêm do facto de serem animais de “sangue quente” sociais, que percorrem grandes distâncias a velocidades elevadas diariamente.

Fonte: news.bbc.co.uk

Ficha de espécies - Bico-grossudo

O Bico-grossudo é uma pequena ave, cuja característica mais notável está evidenciada no seu nome comum – o bico. De forma triangular, a sua força pode exceder os 50kg de pressão, razão pela qual consegue alimentar-se de duros frutos e sementes.

IDENTIFICAÇÃO E CARACTERÍSTICAS


O Bico-grossudo (Coccothraustes coccothraustes) é um passeriforme granívoro, pertencente à família Fringillidae, onde também se incluem Pintassilgos, Tentilhões e Verdelhões. Em Portugal, o Bico-grossudo é o representante de maior dimensão desta família: pode pesar 60g, que é cerca de 3 a 4 vezes mais do que um Pintassilgo, tem um comprimento de 18 cm e uma envergadura que pode ultrapassar os 30 cm. Tem uma cabeça grande, um pescoço largo, um bico extremamente forte, adunco e triangular e uma cauda muito curta. A plumagem é dominada por um castanho avelã, com as costas castanho-escuro e um anel cinzento-claro no pescoço. As asas são preto-azuladas, com um painel branco muito visível em voo, e a ponta da cauda e as infracaudais são brancas. Tem uma mascarilha negra que envolve os olhos e a base do bico. Durante a época de reprodução o bico é preto e durante o resto do ano, amarelo-claro.

DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA


O Bico-grossudo distribui-se desde a Península Ibérica e Norte de África até ao Japão, passando pelas ilhas Britânicas, Escandinávia, Turquia, Caucaso, Sibéria e Mongólia.

Na Europa a espécie ocorre em 32 países e calcula-se que o efectivo populacional, que aumentou ligeiramente nos últimos anos, se situe entre 1 e 1,5 milhões de indivíduos, concorrendo a Alemanha sozinha com mais de 300 000 indivíduos. As densidades máximas de Bico-grossudo, que ocorrem por exemplo nas florestas da Polónia, podem atingir os 68 casais por quilómetro quadrado.

Em Portugal, ainda que em densidades aparentemente baixas, a espécie ocorre desde Trás-os-Montes ao Algarve.

ESTATUTO DE CONSERVAÇÃO

Na maior parte da Europa a tendência populacional da espécie é estável ou em ligeiro aumento, daí que não esteja entre as espécies europeias de conservação prioritária. O seu estatuto de conservação é Favorável e a principal ameaça parece ser, em alguns casos, a perda de habitat e eventualmente alguma pressão cinegética.

HABITAT

O Bico-grossudo frequenta fundamentalmente as copas de árvores de folha caduca, em florestas de quercíneas, galerias ripícolas, sebes e até parques urbanos. De uma forma geral evita as coníferas. No Norte de Portugal é mais frequente em pomares, sebes ou bosques de árvores frondosas. No Sul utiliza fundamentalmente os montados de sobro e de azinho, os povoamentos de pinheiro manso, pomares e olivais.

 
ALIMENTAÇÃO

O poderoso bico desta espécie permite-lhe consumir um grande número de sementes, frutos e rebentos, incluindo pinhões, azeitonas e bolotas. Por vezes ingere os frutos para chegar até à semente. Principalmente durante a época de reprodução, também consome diversas espécies de invertebrados, incluindo aranhas, caracóis, lagartas e coleópteros.

REPRODUÇÃO

Os Bicos-grossudos são monogâmicos e nidificam isoladamente ou na proximidade de outros casais. Em Portugal iniciam a reprodução em finais de Abril. Constroem um ninho na copa de uma árvore, onde a fêmea põe 4 a 5 ovos azuis-claros ou cinzento esverdeados. A incubação dura 11 a 13 dias e as crias são alimentadas por ambos os progenitores. Abandonam o ninho 12 a 13 dias após a eclosão. Reproduzem-se pela primeira vez no ano seguinte.

MOVIMENTOS


A população do Norte e Centro da Europa migra para o Sul do continente. A população do Sul é sedentária e efectua durante o Inverno movimentos nómadas em busca de alimento, sendo frequente, neste período, que as aves se agrupem em bandos que podem atingir os 100 indivíduos.

LOCAIS FAVORÁVEIS À OBSERVAÇÃO


A baixa densidade da espécie no nosso país, aliada aos hábitos esquivos da espécie, torna-a extremamente difícil de observar. Conhecer as suas vocalizações, em particular o seu chamamento curto, áspero e metálico, são meio caminho para a sua detecção. Mesmo assim, é frequente que as observações se resumam a um indivíduo a voar em altitude (50 m ou mais) e em contra luz. Dentro deste panorama pouco animador, as melhores oportunidades de observação talvez se encontrem nos montados que bordejam rios e ribeiras da margem esquerda do Guadiana, nas zonas de pinheiro manso e sobreiro da bacia do Sado e nas sebes de freixos que separam os lameiros do planalto Mirandês.

CURIOSIDADES

Experiência de laboratório revelaram que a força do bico desta espécie pode exceder os 50kg de pressão.

Fonte: Naturalink

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Não vai haver Compromisso Baleeiro

Já poucas esperanças restam para que os países a favor da caça à baleia cheguem a um acordo com os países que desaprovam a actividade. O chamado “processo de paz” vai-se arrastar durante este ano, pelo menos.

A Comissão Baleeira Internacional está reunida em Agadir para a possibilidade de se estabelecer um compromisso entre os países que promovem a caça à baleia e os países que se opõem a essa actividade. Mas, ao fim de dois dias de negociações, não se verificam progressos significativos e já não subsistem possibilidades para se assumir tal compromisso até ao final desta semana.


A proposta de compromisso levaria ao corte da cota de caça à baleia do Japão na Antárctica e à introdução de programas para as baleias sob supervisão internacional. A proposta é desde logo controversa porque, para muitos intervenientes desta reunião, é vista como uma forma de legitimar a actividade do Japão, da Islândia ou da Noruega.

Apesar da caça comercial à baleia estar banida desde 1986, através de objecções oficiais à decisão, a Islândia e a Noruega vão mantendo a actividade pelo interesse neste mercado e por ser sustentável, enquanto o Japão se escuda com as permissões reguladas para fins de investigação científica.

Perante um conflito internacional de interesses das últimas décadas, a Comissão Baleeira Internacional deu início a um processo de paz em Santiago há dois anos. O objectivo seria chegar a um compromisso ao fim do primeiro ano, mas é certo que o processo se deverá arrastar, pelo menos, ao longo do terceiro ano e muitos consideram que as relações têm piorado progressivamente.

terça-feira, 18 de maio de 2010

Recolhidas pela primeira vez amostras de água no Pólo Norte

As amostras recolhidas até 5000m de profundidade serão usadas num estudo que pretende avaliar a velocidade de acidificação do oceano Árctico devido ao aumento da concentração atmosférica de CO2 e determinar os efeitos na fauna e flora da região.

Depois do insucesso do ano passado os cientistas da Catlin Arctic Survey empreenderam nova expedição ao Pólo Norte para recolher amostras de água tendo desta vez sido bem-sucedidos.

Os investigadores partiram no início de Março e percorreram mais de 775 km sobre o gelo marinho ao largo da Gronelândia até chegarem ao Pólo Norte geográfico. Aí perfuraram a massa gelada para obter amostras de água até 5000m de profundidade.

O objectivo é estudar a velocidade de acidificação do oceano Árctico devido ao aumento da concentração atmosférica de CO2 e determinar os seus efeitos na fauna e flora da região.

Segundo explicou Rim Cullingford, que participou na expedição “Como é a primeira vez que se recolhem amostras, estes dados serão usados como linha-de-base para estudos posteriores, fornecendo as primeiras pistas sobre o impacto da absorção do dióxido de carbono [no Árctico]”.

Actualmente assiste-se a um fenómeno global de acidificação dos oceanos, com o oceano Árctico a registar alterações mais rápidas do que os restantes como consequência da absorção de CO2 ser mais intensa em águas com temperaturas mais baixas.

Para além da água foram também recolhidas amostras de plâncton e de gelo cuja espessura foi também alvo de medição. Em conjunto com os resultados de outra expedição ao norte do Canadá que decorreu em simultâneo obtiveram-se 2200 amostras que serão analisadas em laboratório. Os cientistas esperam apresentar os resultados até ao fim do ano.

Fonte: www.guardian.co.uk

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Dia da Terra

O dia da Terra passa quase despercebido em Portugal. Criado em 1970, pelo senador norte-americano Gaylord Neson, manifesta-se essencialmente nas escolas do país.
O que começou, em 1970, como um protesto nacional contra a poluição, é assinalado à escala mundial, com iniciativas centradas na preservação do Planeta e na importância da reciclagem.
Por todo o país decorrem actividades que comemoram o Dia da Terra, assinalado mundialmente, a partir de 1990, no dia 22 de Abril.
No Porto o projecto "Together Green", vai oferecer flores na Rua S. Francisco Xavier. Se um dos 78 estudantes de “t-shirt” verde mobilizados para a campanha lhe oferecer flores não estranhe, não é "Impulse", é o Dia da Terra.
Em Águeda, 50 organizações de todo o município vão distribuir contentores de recolha selectiva de óleos. Há ainda actividades ligadas à reciclagem, visitas guiadas ao Parque da Alta Vila, actividades ao ar livre e jogos tradicionais. A transformação de resíduos, rastreios de saúde, peças de teatro e a sensibilização para boas práticas de poupança de água pretendem deixar, ainda, uma marca no Planeta.
Em Ferreira do Alentejo, a câmara municipal está a fazer campanhas de sensibilização ambiental através do projecto "Ferreira sustentável". Direccionado para alunos do jardim-de-infância e do 1º ciclo, promove oficinas de reciclagem e de instrumentos musicais, concebidos através da reutilazação de materiais.
Na Lourinhã, sessões de Educação Ambiental sobre Compostagem Doméstica assinalam o 22 de Abril, Dia da Terra.
Em Lagoa, nos Açores, o Observatório Vulcanológico e Geotérmico dos Açores e a Ecoteca de Lagoa, da Rede Regional de Ecotecas da Secretaria Regional do Ambiente e do Mar, promovem no próximo sábado, um safari geológico de autocarro e pequenos percursos a pé.
Em Lisboa, inserido nas comemorações do dia da Terra, a câmara anunciou que a partir de Maio dar-se-á início à lavagem das ruas e rega de árvores com água reutilizada.

fonte: http://jn.sapo.pt

segunda-feira, 22 de março de 2010

Dia Mundial da Água

Hoje comemora-se o dia Mundial da Água.  

Sabiam que por dia gastam-se muitos litros de água: 10 litros numa descarga de autoclismo, 80 litros num banho rápido, 100 litros numa lavagem de roupa na máquina e 50 litros numa lavagem de louça na máquina? O esforço para poupar água é uma obrigação. Aqui ficam algumas dicas para que possamos usufruir dela por muitos mais anos:

- De cada vez que utiliza o autoclismo deita muita água fora, desnecessariamente. Tente regulá-lo de forma a poupar água. Se não consegue baixar a bóia, pode pôr um objecto que não flutue no depósito e os gastos de água serão reduzidos.

- Verifique se o seu autoclismo perde água Ponha umas gotas de corante no depósito e, se vir água corada na sanita sem ninguém ter puxado o autoclismo, é porque existe uma fuga.

- O caudal de uma torneira é de 11 a 19 litros de água por minuto. Instale um compressor redutor de caudal e poderá reduzir o consumo em 50%.

- Não deixe correr a água enquanto lava os dentes ou faz a barba, pois abrir e fechar a torneira várias vezes é melhor do que deixar a correr água sem necessidade.

- Quando se está a lavar, feche a torneira enquanto se ensaboa. Poupará muita água.

- Prefira o duche ao banho de imersão.

- Uma torneira a pingar durante 24 horas, de 5 em 5 segundos, perde 3 litros de água, o que corresponde a mais de 1000 litros de água por ano. Verifique as torneiras e repare as fugas de água.

- Só utilize a máquina de lavar louça ou roupa quando estiverem cheias ou se possuírem programas de meia-carga.

- Para poupar água, não lave a loiça com água corrente - encha o lava-loiça.

- Proceda à rega das suas plantas de manhã cedo ou ao cair da noite. Nessa altura, a evaporação de água causada pelo Sol é menor, pelo que poupará este recurso.

- Antes de lavar a loiça mais suja, limpe-a com papel e, se necessário, deixe-a "de molho".

- Regue as plantas da casa com a água recuperada da chuva ou com a que sobra na panela depois de alguém ferver ou aquecer vegetais. Esta será mais rica em nutrientes, embora seja necessário deixá-la arrefecer antes da rega.
 
Fonte: Naturalink

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Acção de plantação de Carvalhos - Acção Oxigénio












Envolva-se
Seja também um super-voluntário!
Junte-se à Cascais Natura nas acções públicas de conservação da Natureza.
Estão previstas várias acções de plantação de árvores, protecção e recuperação dos solos, erradicação de espécies invasoras (como por exemplo a acácia e o chorão), limpeza e requalificação de ribeiras, limpeza de matos, entre outras actividades.
O envolvimento nestas acções é voluntário, e tem como objectivo possibilitar o contacto directo das pessoas com a Natureza, promovendo assim a consciência ambiental.
O ponto de encontro varia consoante o dia da acção: Pisão de Baixo (Zambujeiro, Cascais), junto à Fundação S. Francisco de Assis; Pisão de Cima (troço da ribeira do Rio da Mula); Pedra Amarela Campo Base.
Verifique em baixo qual o ponto de encontro consoante o dia da acção, e confirme como chegar ao local através dos mapas disponibilizados.
Notas:

  •  O material necessário para a acção de conservação será fornecido pela Cascais Natura;

  • As crianças podem participar, e pode também levar o seu animal de estimação;

  • Levar agasalho, botas, luvas e água;

  • As acções podem ser canceladas com 24 horas de antecedência, devido às condições climatéricas e também no caso de não se verificar o número mínimo de voluntários inscritos.

 

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Dispersão de bolota pelos vertebrados dos montados de sobro da Serra de Grândola

Nos montados de sobro da Serra de Grândola estão a ser monitorizados o consumo e a dispersão de bolotas por aves e mamíferos, fenómenos que podem afectar decisivamente a regeneração natural do montado.

Uma das maiores ameaças à manutenção dos montados de sobro é a baixa capacidade de regeneração natural, o que leva a que um dos principais e primeiros objectivos de conservação previstos no Plano da Rede Natura para este ecossistema, consista em “Recuperar o potencial de regeneração natural do coberto florestal na restante área ocupada pelo habitat em causa” (Aguiar, C. 2005, www.icn.pt).

Sabe-se actualmente que são diversas as espécies de vertebrados que utilizam as bolotas, como alimento principal (Gaio, Rato-do-campo, Javali, gado doméstico, mas também diversos insectos) ou como eventual complemento da dieta (mesocarnívoros, como o Texugo e a Raposa, mas também diversas aves). Sendo um tipo de semente altamente energética e abundante no montado, constitui um elemento de elevadíssimo interesse alimentar, estando portanto, sujeita a grandes pressões por parte dos seus inúmeros predadores.

Por outro lado, considera-se que esta predação das bolotas é um factor decisivo integrante da estratégia de dispersão da planta a longas distâncias que, em conjunto com o seu posterior enterramento, pode ser bastante benéfico, pois possibilita a dispersão de sementes perdidas ou esquecidas num habitat adequado à sua germinação (Loman, J. dados não publicados). De outra forma, todas as sementes estariam sujeitas apenas a uma dispersão abiótica vertical, o que se revela um factor altamente negativo para a regeneração natural, pela pouca probabilidade de germinação e estabelecimento dos novos rebentos, em torno da árvore-mãe. Os vertebrados que enterram estas sementes, como as aves e mamíferos, são de um modo geral, agentes dispersores efectivos destas espécies vegetais, uma vez que existe o potencial recrutamento de novas plantas a partir de sementes não recuperadas pelo animal (Herrera, 1995).

Pretendeu-se com este trabalho identificar os principais vertebrados dispersores/predadores de bolota nos montados de sobro da Serra de Grândola. Na Herdade da Ribeira Abaixo, estação de campo do Centro de Biologia Ambiental localizada nesta serra, foi implementado um sistema de avaliação da remoção de bolota numa área com baixa densidade de ungulados (tanto domésticos como silvestres) no âmbito do projecto “Impactos da herbivoria e da remoção de bolota na regeneração do montado de sobro”, financiado pelo Programa Agro (Projecto Agro 669/ 2003.09.0024525.2). Recorrendo-se a sistemas de vídeo-vigilância, foram obtidos registos filmados de remoção de bolota pelos animais.

Foram colocados 4 conjuntos de alimentadores (cada conjunto constituído por dois alimentadores) em 4 locais distintos e afastados entre si:

-dois conjuntos em vertentes viradas a Norte, em zonas de bosque (com sub-coberto arbustivo denso) e próximos de ribeiras (B1 e B2);

-dois conjuntos em vertentes viradas a Sul em áreas abertas, com poucas árvores e sem sub-coberto arbustivo, sem qualquer curso de água na proximidade
Os alimentadores foram construídos com madeira de pinho, de cor clara, com as dimensões de um quadrado com 50cm de lado. Em cada conjunto, um dos alimentadores (“topo”) foi instalado no cimo de um poste também de madeira, ficando a aproximadamente 1,70m do chão. O outro alimentador (“chão”) foi colocado ligeiramente enterrado, ficando ao nível do solo. Em todos foram feitos orifícios na sua base para escorrimento de água das chuvas.

Cada sistema de vídeo-vigilância foi composto por duas câmaras com leads de infravermelhos, ligadas a um quad e um videogravador, todos eles ligados a uma bateria multiusos 66mA-12V. Cada uma das câmaras foi apontada para cada um dos alimentadores do conjunto, em cada local. As horas de início de gravação variaram entre as 17:11 da tarde e as 21:13 da noite, e as horas de final de gravação variaram entre as 10:00 da manhã e as 13:52 da tarde. As filmagens foram feitas durante o mês de Junho de 2006, tendo-se obtido 6 a 7 dias de registos para cada local, num total de 448 horas de registos.

Ao longo de toda a experiência, foram removidas 1060 bolotas, tendo sido identificadas 9 espécies de animais visitantes (7 de Aves e 2 de Micromamíferos), num total de 1197 indivíduos, sendo o número de Aves superior ao de Micromamíferos (Tabela 1).

No entanto, a remoção de bolotas para fora dos alimentadores (em oposição ao seu consumo no local) ocorreu apenas por Gaio (Garrulus glandarius) e Rato-do-campo (Apodemus sylvaticus), que foram também as duas espécies com maior número de visitas (693 e 466, respectivamente – Tabela 1). Verificou-se apenas uma excepção, de uma bolota removida pela Trepadeira-azul, Sitta europaea. Considerando apenas as remoções de bolota que se conseguiram apurar através dos vídeos, um total de 385 bolotas foram removidas por G. glandarius, e 112 por A. sylvaticus, sendo estes valores seguramente inferiores aos de remoção real. Foi também verificada a remoção de bolotas no chão pelo Gaio.

Considerando as taxas de remoção diária de bolota verificadas neste trabalho, podemos concluir que existe uma elevada predação de bolotas na área de estudo, assim como confirmar o Rato-do-campo Apodemus sylvaticus e o Gaio Garrulus glandarius como os dois principais predadores/dispersores de bolota nesta mesma área. Percebe-se também o valor e intensidade que pode ter este factor de remoção de bolota pelos animais na dispersão e estabelecimento das espécies de Quercus.

Apesar deste resultado, não podemos excluir a possibilidade de existir uma tendência de outras espécies, mais esquivas, para evitar áreas intervencionadas e com sinais de presença humana, como por exemplo, pistas odoríficas das câmaras, dos alimentadores e até deixadas pelos observadores.

O recrutamento de árvores de grande longevidade, como as do género Quercus, é limitado pela acção sinergística de diversas espécies de herbívoros que induzem a mortalidade dos propágulos em fases de vida consecutivas (Gómez et al, 2003). De acordo com este trabalho, e tendo conhecimento do papel do Gaio como um muito eficaz dispersor de bolotas nas áreas de Montado, podemos inferir que haverá uma tendência para um efectivo e eficaz potencial de dispersão e expansão de quercíneas na área da Serra de Grândola. Esta hipótese é sustentada pela elevada quantidade de bolotas removidas de locais de baixíssima probabilidade de estabelecimento de indivíduos (junto à árvore-mãe) e o seu muito provável transporte para outros locais onde essa probabilidade é maior.

fonte: Naturlink.sapo.pt

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Ficha de Espécies: Pepinos do mar – um legume ou um animal?

Apesar das suas semelhanças com os pepinos das nossas hortas, os pepinos do mar são animais marinhos aparentados com as estrelas-do-mar e com os ouriços-do-mar, possuindo um conjunto de características particularmente interessantes e inesperadas.

Os pepinos do mar podem dever o seu nome à semelhança que têm com esse legume das nossas hortas, mas na realidade são animais marinhos, parentes muito próximos das Estrelas-do-mar e dos ouriços-do-mar, apesar de a estes não se assemelharem muito, pelo menos superficialmente.

Constituem um grupo numeroso, com cerca de 1250 espécies, do filo Echinodermata – a classe Holothuroidea, pelo que também são conhecidas como Holotúrias. São uma classe antiga, cujos membros actuais resultam de 540 milhões de anos de evolução desde o seu aparecimento nos fundos oceânicos (Lambert, 1995).

As holotúrias podem ser encontradas desde a zona intertidal até aos fundos das maiores fossas oceânicas em todos os oceanos do mundo, alimentando-se essencialmente de matéria orgânica em suspensão ou depositada no substrato ou de pequenos animais que capturam com os pés ambulacrários.

Bem adaptadas ao seu ambiente, possuem corpos tubulares alongados, com a boca e o ânus em extremidades opostas. O corpo é essencialmente constituído por músculos e tecido conectivo, não apresentam esqueleto ósseo, mas possuem inúmeras placas calcárias que consoante a contracção dos músculos, dão maior ou menor consistência ao corpo. Apresentam texturas variadas desde rugosa a muito suave, e em cores cobrem todos os espectros existentes.
 Na grande maioria possuem os corpos cobertos de pequenos pés ambulacrários (apenas uma das 6 ordens que constituem esta classe não apresenta estas estruturas), que podem ter as mais diversas disposições na parede corporal. São animais de deslocação lenta, que recorrem tanto aos pés ambulacrários como ao movimento ondulatório do seu corpo, muito semelhante aos das lagartas, ou mesmo a movimentos natatórios.

São animais de crescimento lento que só atingem a maturidade entre os 5 e os 8 anos, podem, no entanto e consoante a espécie, atingir tamanhos consideráveis, variando o intervalo de tamanhos entre o 1 cm e os 5 m de comprimento.
O comportamento sedentário e o corpo mole da maioria das holotúrias coloca-as à mercê dos predadores, no entanto, elas desenvolveram substâncias químicas – toxinas, que os afastam, mas no arsenal defensivo das holotúrias estão também os tubos de Cuvier, uma estrutura filamentosa, extremamente adesiva e também de elevado grau tóxico, que são eviscerados quando as holotúrias são atacadas, molestadas ou simplesmente manuseadas. A evisceração é uma das suas mais particulares características, a outra é a sua capacidade de regenerarem os órgãos, vísceras e parte do sistema respiratório, que perdem com a evisceração.
Contudo, o que pode mais surpreender nesta classe dos equinodermes é o facto de algumas espécies fazerem parte da dieta alimentar de milhões de pessoas, nomeadamente no Japão, China e Coreia, desde há séculos, sendo considerado uma especialidade gastronómica utilizada nos mais variados pratos, mas são utilizados igualmente pela crença nas suas propriedades curativas e afrodisíacas.

Na verdade, cerca de 14 000 toneladas de holotúrias são descarregadas anualmente, a maioria das quais provenientes dos desembarques japoneses e coreanos de uma única espécie, que para além de pescada é igualmente criada em aquaculturas. As holotúrias constituem a base de uma indústria multi-milionária que processa a parede corporal destes animais e a comercializa.

Nem todas as espécies são comestíveis, e mesmo as que o são precisam de serem anteriormente preparadas.

As holotúrias podem ser consumidas em fresco (cru) ou em seco. Em seco, são conhecidas como Trepang (palavra de origem Malaia) ou Bêche-de-mer (uma adaptação francesa do nosso português bicho-do-mar), sendo considerado uma delícia gastronómica, utilizada em sopas e em pratos especiais. Depois de cozido, apresentam uma textura suave, cartilaginosa, quase transparente, absorvendo todos os sabores dos molhos e dos outros ingredientes.
Como se referiu, um dos motivos pelos quais os asiáticos consomem o Trepang é a crença nas suas propriedades curativas, as holotúrias são utilizadas medicinalmente pelos asiáticos, e em concreto pela medicina tradicional chinesa, no tratamento da artrite, de lesões dos tendões, ligamentos e articulações, em dores e inflamações musculares e no tratamento da hipertensão. Apenas nas últimas décadas do século passado, a medicina ocidental e os cientistas realizaram experiências no sentido de investigar a importância das holotúrias no tratamento da artrite e de outras doenças das articulações.
As holotúrias contêm as vitaminas A, C, algumas do complexo B, e alguns minerais, mas, e de facto, uma das suas mais-valias para os homens é o facto de serem uma fonte de mucopolissacáridos e de substâncias denominadas de GAGs – Glucosaminoglicanas, das quais se destaca o sulfato de condroitina, que é uma combinação de sulfato de glucosamina com açúcares.

A Glucosamina é uma forma de açúcar (amino-açucar) que se crê desempenhar um papel importante na formação e reparação de cartilagens. O sulfato de condroitina é parte de uma grande molécula proteica (proteoglicano) que dá elasticidade à cartilagem.

Estas substâncias têm sido extraídas de esqueletos externos de animais como a lagosta, o caranguejo ou o camarão, no caso da glucosamina e das cartilagens e traqueias de tubarões no caso do sulfato e já fazem parte de alguns suplementos alimentares e dietéticos.
Outra das mais valias das holotúrias são as suas toxinas, algumas espécies produzem toxinas de interesse farmacológico, e alguns compostos isolados até à data, exibem actividade anti-microbiana ou actuam como agentes anti-inflamatórios ou anti-coagulantes.
Os pescadores de algumas ilhas do Pacífico, por exemplo, utilizam as toxinas das holotúrias, algumas das quais inibidoras respiratórias para atrair os peixes e os polvos das rochas de forma a poderem ser mais facilmente capturados. Estes pescadores utilizam igualmente os tóxicos tubos de Cuvier como pensos rápidos em feridas que sangram.
Para além de serem importantes na nossa economia, as holotúrias assumem particular relevância em termos ecológicos, uma vez que são muito importantes na manutenção e melhoramento das condições dos ecossistemas onde se encontram. Como animais detrívoros em larga escala, são responsáveis pela reciclagem de cerca de 90% da biomassa dos fundos marinhos, além de que “arejam” o sedimento à semelhança do que as minhocas fazem com a terra.
Nota final:
Apesar de nenhuma espécie de holotúria constar na Lista Vermelha da IUCN, os exemplos de espécies ameaçadas a nível regional ou nacional devido à sobre-exploração dos stocks têm vindo a aumentar. Um destes exemplos de sobre-exploração vem do Arquipélago das Galápagos, em que a transferência do esforço de pesca do continente para as ilhas, em 1989, conduziu a uma redução dramática da população da espécie ali explorada – Stichopus fuscus até que em 1999 foi finalmente aplicado um plano de gestão das pescarias; outro destes exemplos é o da Baixa Califórnia cuja espécie explorada Isostichopus fuscus foi declarada, em 1994,em risco de extinção pelo Instituto Nacional de Ecologia do México.

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

20 anos depois as praias do Alasca ainda têm crude do Exxon Valdez

O crude derramado com o acidente do Exxon Valdez em 1989, um dos piores desastres ambientais de sempre, ainda é hoje encontrado sob o cascalho das praias do Alasca.

Num estudo, publicado na Nature Geoscience, uma equipa de investigadores revelou que o óleo derramado em 1989 com o acidente do Exxon Valdez ainda se encontra com abundância a apenas alguns centímetros da superfície.
Neste estudo concluiu-se que este óleo presente debaixo do cascalho das praias do Alasca dissipa-se cerca de 1000 vezes mais devagar que o óleo da superfície. Para o atraso deste processo também contribuirá a escassez de oxigénio e de nutrientes no cascalho.


Em 1989 o acidente resultou num derrame de 38000 toneladas de crude, afectando até aos dias de hoje mais de 2000 km de costa e com um impacte ecológico sem precedentes. Nos cinco anos seguintes o óleo ter-se-á dissipado a uma taxa de 70% por ano e as operações de limpeza foram terminadas em 1992, considerando-se que o restante óleo seria dissipado em pouco tempo. No entanto, a taxa de dissipação decaiu para 4% por ano e hoje ainda se encontra quantidades consideráveis de óleo na região.



Fonte: BBC news

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Ficha de espécies - O Lobo

O lobo, o maior de todos os canídeos selvagens, é um símbolo da natureza bravia que já deambulou por todo o Hemisfério Norte. Hoje,
Portugal é um dos poucos países da Europa Ocidental onde ainda existe.

DESCRIÇÃO GERAL

O lobo (Canis lupus) é um carnívoro de grande porte, sendo o maior canídeo selvagem que existe na actualidade. Embora faça lembrar, na aparência, um cão pastor alemão é na realidade mais magro, com o peito mais estreito, os membros mais compridos e as almofadas das patas mais desenvolvidas. A região anterior do corpo é bem desenvolvida e a região lombar é forte, arredondada e ligeiramente encurvada. As patas dianteiras são ligeiramente maiores do que as patas posteriores. A cauda é espessa e está quase sempre caída, entre os membros posteriores quando o animal se desloca. A cabeça é volumosa e alongada, de aspecto maciço e o focinho largo. As orelhas são triangulares, rígidas e relativamente curtas. Os olhos apresentam cor clara, castanho amarelada e inserem-se de forma oblíqua em relação ao focinho.
O lobo apresenta grandes variações de tamanho e de coloração ao longo da sua vasta área de distribuição geográfica. Na Península Ibérica o peso médio dos machos ronda os 35 kg, havendo, no entanto, animais que por vezes ultrapassam os 40 kg. As fêmeas são um pouco mais leves com um peso médio próximo dos 30 kg. O comprimento dos machos varia entre 131 e 178 cm e nas fêmeas entre 132 e 165 cm. A altura ao garrote situa-se entre os 65 e os 80 cm. O lobo apresenta uma pelagem de Inverno bastante mais densa e longa que a pelagem de Verão. Na sub-espécie ibérica, a pelagem é de coloração geral acinzentada, com a zona dorsal castanho amarelada, mesclada de negro, particularmente sobre o dorso. A zona ventral é clara, de tom, em geral, branco amarelado. O branco da garganta estende-se para as faces. A cauda é acinzentada com a ponta negra e tem ainda uma pequena mancha dorsal negra no seu terço superior. Os membros dianteiros apresentam, na parte da frente, uma faixa longitudinal negra. A abundância de tons avermelhados e/ou amarelados é uma das principais diferenças entre esta e as outras subespécies. Os lobos parecem depender sobretudo do olfacto e da audição, mas têm também uma visão relativamente boa. A longevidade potencial é de 16/17 anos, embora um lobo com 10 anos seja já considerado um animal velho.

DISTRIBUIÇÃO E ABUNDÂNCIA

O lobo habitava originalmente quase toda a região Holárctica, acima dos 20º de Latitude Norte. Assim, todos os habitats existentes no Hemisfério Norte, à excepção das florestas tropicais e dos desertos áridos já foram habitados por este carnívoro, o que revela a sua grande capacidade de adaptação. No entanto, a área de distribuição deste predador encontra-se, actualmente, bastante reduzida e fragmentada, como consequência da destruição do seu habitat, da redução do número de ungulados selvagens e da perseguição sistemática que lhe tem sido movida pelo Homem. No entanto, ao longo da última década, tem-se assistido a uma recuperação evidente desta espécie em grande parte da sua área de distribuição europeia. Esta expansão das populações de lobo parece estar associada à protecção legal e ao aumento progressivo das populações de ungulados selvagens, sobretudo de corço e de javali, possivelmente resultante da diminuição da pressão cinegética (ainda que nalguns casos o incremento dos ungulados resulte precisamente de opções de gestão cinegética) e do êxodo rural que se tem verificado nas últimas décadas.

A população de lobo em Portugal distribui-se, actualmente, por uma área de aproximadamente 20 000 km2, sendo constituída por um número de animais que varia entre cerca de 300 animais no início da Primavera (antes da criação) e cerca de 450 animais em meados de Outono. O número de alcateias deverá variar entre 45 a 50 no núcleo populacional situado a norte do rio Douro, não devendo ultrapassar as 10 a sul do mesmo. A população poprtuguesa, principalmente o núcleo situado a norte do rio Douro encontra-se em continuidade com a população espanhola que varia entre os 1500 e os 2000 indivíduos. O núcleo situado a sul do Douro poderá estar isolado da restante população ibérica estando, deste modo, a sua conservação bastante ameaçada a médio prazo.

ESTATUTO DE CONSERVAÇÃO

Canis lupus signatus (Cabrera 1907), a subespécie existente na Península Ibérica, possui em Portugal o estatuto de EM PERIGO e é abrangida por legislação nacional específica (actualmente em revisão), Lei nº90/88, de 13 de Agosto, Decreto de Lei nº130/90, de 27 de Abril, que lhe confere o estatuto de espécie protegida. Em termos Europeus, a conservação da espécie é requerida ao abrigo do artigo 2.3 da Directiva 92/43/CEE (Directiva Habitats), constando como espécie prioritária nos anexos II e IV. Os habitats do lobo estão parcialmente listados no anexo I dessa directiva. Esta espécie é também abrangida pelas convenções internacionais de Berna (Anexo II), de CITES (Anexo II-C2) e da Biodiversidade, onde consta como espécie elegível.

ORGANIZAÇÃO SOCIAL

Entendendo-se a designação de alcateia como um grupo familiar de lobos constituído por 2 animais reprodutores, um ou mais adultos ou subadultos e as crias do ano, pode dizer-se que é essa a unidade social dominante numa população de lobos. A natureza social desta espécie pode ser associada à tendência do lobo para caçar sobretudo animais muito maiores que ele próprio. O tamanho da alcateia varia bastante ao longo de toda a área de distribuição da espécie e são vários os factores que condicionam os seus limites . Em Portugal o número de animais em cada alcateia parece variar entre 3 a 5 indivíduos no fim do Inverno e 7 a 10 animais no Verão, com o nascimento dos lobachos.

ALIMENTAÇÃO
O lobo apresenta uma comportamento alimentar flexível que lhe permite ocupar áreas muito heterógeneas, no que respeita à disponibilidade e acessibilidade dos vários tipos potenciais de presas. No entanto, o regime alimentar deste carnívoro baseia-se no consumo de mamíferos de médio e grande porte, sobretudo ungulados. Em Portugal, as variações existentes nos hábitos alimentares do lobo parecem resultar da existência/abundância de presas selvagens e dos diferentes sistemas de pastoreio utilizados em cada região. No nosso país as principais presas selvagens do lobo são o javali, o corço e o veado e as presas domésticas mais comuns são a ovelha, a cabra, o cavalo e a vaca. Ocasionalmente também mata e come cães e alimenta-se de cadáveres que encontra no campo ou em locais próximos das povoações, onde são depositados animais domésticos mortos.

REPRODUÇÃO

Os lobos atingem a maturidade sexual com cerca de 2 anos de idade. O acasalamento verifica-se em Fevereiro- Março e após cerca de 2 meses de gestação têm lugar os nascimentos (Abril- Maio). As crias, 4 a 6 por ninhada, nascem com os olhos fechados e inicialmente têm necessidade constante dos cuidados maternais. Em geral, todos os indivíduos da alcateia participam na criação dos lobachos estando encarregues de levar comida para a fêmea reprodutora e para as crias. À medida que o Verão avança, a loba progenitora vai passando cada vez menos tempo no local de criação. A época de reprodução chega ao fim por volta de finais de Outubro, quando os lobachos, que já apresentam quase o tamanho adulto, abandonam o local de criação e começam a acompanhar o resto da alcateia nas suas deslocações, iniciando-se no processo de aprendizagem da caça.

UTILIZAÇÃO DO ESPAÇO E DO TEMPO

O tamanho da área que cada alcateia utiliza durante o ano nas suas deslocações normais varia bastante ao longo da área de distribuição mundial do lobo. Existem alcateias com áreas vitais com menos de 100 km2 e alcateias com áreas vitais da ordem dos 2500 km2. Vários factores interactuam na determinação da dimensão e configuração das áreas vitais de lobo, entre os quais a disponibilidade de recursos alimentares, de refúgio e o grau de perturbação humana. Em Portugal, as áreas vitais parecem variar entre os 100 e os 300 km2, situando-se entre as mais pequenas descritas para o lobo. A área vital não é utilizada de forma homogénea, já que no seu interior existem determinadas zonas, designadas habitualmente como centros de actividade, que são utilizadas com muito maior frequência. Entre Maio e Outubro os movimentos de toda a alcateia estão dependentes do local onde se encontram as crias. A partir de Novembro toda a alcateia inicia um período de movimentos mais amplos, visitando as zonas mais periféricas da sua área vital, possivelmente para marcar e defender o seu território.
Os lobos durante um período de 24 horas efectuam trajectos com cerca de 20 a 40 km à procura de presas que possam abater com sucesso. A sua velocidade máxima em corrida pode atingir os 55-70 km/h e podem manter, para grandes distâncias, uma velocidade média de 8 km/h. Estas deslocações efectuam-se, em geral, durante a noite, período durante o qual os lobos são mais activos.

INDÍCIOS DE PRESENÇA
A observação de lobos no meio natural, devido ao seu carácter esquivo e aos seus hábitos nocturnos, reduz-se geralmente a um golpe de sorte. Durante o dia resta aprender a distinguir os indícios que denunciam a sua passagem. Os dejectos são de cor variável, exibindo quando frescos tons escuros assim como um odor muito característico. Medem cerca de 20 a 30 cm de comprimento e 2,5 a 3,5 cm de largura máxima. São habitualmente encontrados no solo ou sobre pequenos arbustos ao longo de caminhos ou encruzilhadas, constituindo marcas territoriais. Podem ser constituídos por pêlos, fragmentos de ossos e por restos de matéria orgânica não digerida. As pegadas, dada a sua semelhança com as de cão, são praticamente impossíveis de identificar com segurança; no entanto, ao contrário dos cães, os lobos quando se deslocam, deixam um trilho bastante rectilíneo. Quando um lobo ataca um animal, deixa um conjunto de vestígios que por vezes permitem afirmar que o predador que matou aquela presa é um lobo, tais como o esmagamento da traqueia da presa, o tipo de arrastamento que se observa depois da presa morta, e o modo como determinadas partes da presa são consumidas. A concentração de todos estes vestígios pode-nos indicar um bom local para estar ao amanhecer e, pacientemente, tentar observar estes animais.

GESTÃO E CONSERVAÇÃO DO LOBO EM PORTUGAL

Nos países do sul da Europa, entre os quais Portugal, onde a presença do Homem se faz sentir desde há milhares de anos, a existência de medidas minimizadoras dos potenciais conflitos que podem surgir entre o lobo e as populações locais é fundamental para a conservação desta espécie. Para além das medidas de prevenção dos ataques de lobo aos animais domésticos é crucial a existência de um sistema eficaz de pagamento de compensações financeiras aos proprietários de presas domésticas de lobo alvo de prejuízos comprovados. Com a publicação da lei nº 90/88 o estado português assumiu a responsabilidade em indemnizar os cidadãos que venham a ser considerados como directamente afectados pela acção do lobo, sendo, actualmente, o I.C.N. (Instituto da Conservação da Natureza) a entidade responsável pela averiguação da causa e natureza dos prejuízos e pelo pagamento das respectivas indemnizações sempre que se confirme ser o lobo o seu causador.