sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Acção de plantação de Carvalhos - Acção Oxigénio












Envolva-se
Seja também um super-voluntário!
Junte-se à Cascais Natura nas acções públicas de conservação da Natureza.
Estão previstas várias acções de plantação de árvores, protecção e recuperação dos solos, erradicação de espécies invasoras (como por exemplo a acácia e o chorão), limpeza e requalificação de ribeiras, limpeza de matos, entre outras actividades.
O envolvimento nestas acções é voluntário, e tem como objectivo possibilitar o contacto directo das pessoas com a Natureza, promovendo assim a consciência ambiental.
O ponto de encontro varia consoante o dia da acção: Pisão de Baixo (Zambujeiro, Cascais), junto à Fundação S. Francisco de Assis; Pisão de Cima (troço da ribeira do Rio da Mula); Pedra Amarela Campo Base.
Verifique em baixo qual o ponto de encontro consoante o dia da acção, e confirme como chegar ao local através dos mapas disponibilizados.
Notas:

  •  O material necessário para a acção de conservação será fornecido pela Cascais Natura;

  • As crianças podem participar, e pode também levar o seu animal de estimação;

  • Levar agasalho, botas, luvas e água;

  • As acções podem ser canceladas com 24 horas de antecedência, devido às condições climatéricas e também no caso de não se verificar o número mínimo de voluntários inscritos.

 

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Dispersão de bolota pelos vertebrados dos montados de sobro da Serra de Grândola

Nos montados de sobro da Serra de Grândola estão a ser monitorizados o consumo e a dispersão de bolotas por aves e mamíferos, fenómenos que podem afectar decisivamente a regeneração natural do montado.

Uma das maiores ameaças à manutenção dos montados de sobro é a baixa capacidade de regeneração natural, o que leva a que um dos principais e primeiros objectivos de conservação previstos no Plano da Rede Natura para este ecossistema, consista em “Recuperar o potencial de regeneração natural do coberto florestal na restante área ocupada pelo habitat em causa” (Aguiar, C. 2005, www.icn.pt).

Sabe-se actualmente que são diversas as espécies de vertebrados que utilizam as bolotas, como alimento principal (Gaio, Rato-do-campo, Javali, gado doméstico, mas também diversos insectos) ou como eventual complemento da dieta (mesocarnívoros, como o Texugo e a Raposa, mas também diversas aves). Sendo um tipo de semente altamente energética e abundante no montado, constitui um elemento de elevadíssimo interesse alimentar, estando portanto, sujeita a grandes pressões por parte dos seus inúmeros predadores.

Por outro lado, considera-se que esta predação das bolotas é um factor decisivo integrante da estratégia de dispersão da planta a longas distâncias que, em conjunto com o seu posterior enterramento, pode ser bastante benéfico, pois possibilita a dispersão de sementes perdidas ou esquecidas num habitat adequado à sua germinação (Loman, J. dados não publicados). De outra forma, todas as sementes estariam sujeitas apenas a uma dispersão abiótica vertical, o que se revela um factor altamente negativo para a regeneração natural, pela pouca probabilidade de germinação e estabelecimento dos novos rebentos, em torno da árvore-mãe. Os vertebrados que enterram estas sementes, como as aves e mamíferos, são de um modo geral, agentes dispersores efectivos destas espécies vegetais, uma vez que existe o potencial recrutamento de novas plantas a partir de sementes não recuperadas pelo animal (Herrera, 1995).

Pretendeu-se com este trabalho identificar os principais vertebrados dispersores/predadores de bolota nos montados de sobro da Serra de Grândola. Na Herdade da Ribeira Abaixo, estação de campo do Centro de Biologia Ambiental localizada nesta serra, foi implementado um sistema de avaliação da remoção de bolota numa área com baixa densidade de ungulados (tanto domésticos como silvestres) no âmbito do projecto “Impactos da herbivoria e da remoção de bolota na regeneração do montado de sobro”, financiado pelo Programa Agro (Projecto Agro 669/ 2003.09.0024525.2). Recorrendo-se a sistemas de vídeo-vigilância, foram obtidos registos filmados de remoção de bolota pelos animais.

Foram colocados 4 conjuntos de alimentadores (cada conjunto constituído por dois alimentadores) em 4 locais distintos e afastados entre si:

-dois conjuntos em vertentes viradas a Norte, em zonas de bosque (com sub-coberto arbustivo denso) e próximos de ribeiras (B1 e B2);

-dois conjuntos em vertentes viradas a Sul em áreas abertas, com poucas árvores e sem sub-coberto arbustivo, sem qualquer curso de água na proximidade
Os alimentadores foram construídos com madeira de pinho, de cor clara, com as dimensões de um quadrado com 50cm de lado. Em cada conjunto, um dos alimentadores (“topo”) foi instalado no cimo de um poste também de madeira, ficando a aproximadamente 1,70m do chão. O outro alimentador (“chão”) foi colocado ligeiramente enterrado, ficando ao nível do solo. Em todos foram feitos orifícios na sua base para escorrimento de água das chuvas.

Cada sistema de vídeo-vigilância foi composto por duas câmaras com leads de infravermelhos, ligadas a um quad e um videogravador, todos eles ligados a uma bateria multiusos 66mA-12V. Cada uma das câmaras foi apontada para cada um dos alimentadores do conjunto, em cada local. As horas de início de gravação variaram entre as 17:11 da tarde e as 21:13 da noite, e as horas de final de gravação variaram entre as 10:00 da manhã e as 13:52 da tarde. As filmagens foram feitas durante o mês de Junho de 2006, tendo-se obtido 6 a 7 dias de registos para cada local, num total de 448 horas de registos.

Ao longo de toda a experiência, foram removidas 1060 bolotas, tendo sido identificadas 9 espécies de animais visitantes (7 de Aves e 2 de Micromamíferos), num total de 1197 indivíduos, sendo o número de Aves superior ao de Micromamíferos (Tabela 1).

No entanto, a remoção de bolotas para fora dos alimentadores (em oposição ao seu consumo no local) ocorreu apenas por Gaio (Garrulus glandarius) e Rato-do-campo (Apodemus sylvaticus), que foram também as duas espécies com maior número de visitas (693 e 466, respectivamente – Tabela 1). Verificou-se apenas uma excepção, de uma bolota removida pela Trepadeira-azul, Sitta europaea. Considerando apenas as remoções de bolota que se conseguiram apurar através dos vídeos, um total de 385 bolotas foram removidas por G. glandarius, e 112 por A. sylvaticus, sendo estes valores seguramente inferiores aos de remoção real. Foi também verificada a remoção de bolotas no chão pelo Gaio.

Considerando as taxas de remoção diária de bolota verificadas neste trabalho, podemos concluir que existe uma elevada predação de bolotas na área de estudo, assim como confirmar o Rato-do-campo Apodemus sylvaticus e o Gaio Garrulus glandarius como os dois principais predadores/dispersores de bolota nesta mesma área. Percebe-se também o valor e intensidade que pode ter este factor de remoção de bolota pelos animais na dispersão e estabelecimento das espécies de Quercus.

Apesar deste resultado, não podemos excluir a possibilidade de existir uma tendência de outras espécies, mais esquivas, para evitar áreas intervencionadas e com sinais de presença humana, como por exemplo, pistas odoríficas das câmaras, dos alimentadores e até deixadas pelos observadores.

O recrutamento de árvores de grande longevidade, como as do género Quercus, é limitado pela acção sinergística de diversas espécies de herbívoros que induzem a mortalidade dos propágulos em fases de vida consecutivas (Gómez et al, 2003). De acordo com este trabalho, e tendo conhecimento do papel do Gaio como um muito eficaz dispersor de bolotas nas áreas de Montado, podemos inferir que haverá uma tendência para um efectivo e eficaz potencial de dispersão e expansão de quercíneas na área da Serra de Grândola. Esta hipótese é sustentada pela elevada quantidade de bolotas removidas de locais de baixíssima probabilidade de estabelecimento de indivíduos (junto à árvore-mãe) e o seu muito provável transporte para outros locais onde essa probabilidade é maior.

fonte: Naturlink.sapo.pt

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Ficha de Espécies: Pepinos do mar – um legume ou um animal?

Apesar das suas semelhanças com os pepinos das nossas hortas, os pepinos do mar são animais marinhos aparentados com as estrelas-do-mar e com os ouriços-do-mar, possuindo um conjunto de características particularmente interessantes e inesperadas.

Os pepinos do mar podem dever o seu nome à semelhança que têm com esse legume das nossas hortas, mas na realidade são animais marinhos, parentes muito próximos das Estrelas-do-mar e dos ouriços-do-mar, apesar de a estes não se assemelharem muito, pelo menos superficialmente.

Constituem um grupo numeroso, com cerca de 1250 espécies, do filo Echinodermata – a classe Holothuroidea, pelo que também são conhecidas como Holotúrias. São uma classe antiga, cujos membros actuais resultam de 540 milhões de anos de evolução desde o seu aparecimento nos fundos oceânicos (Lambert, 1995).

As holotúrias podem ser encontradas desde a zona intertidal até aos fundos das maiores fossas oceânicas em todos os oceanos do mundo, alimentando-se essencialmente de matéria orgânica em suspensão ou depositada no substrato ou de pequenos animais que capturam com os pés ambulacrários.

Bem adaptadas ao seu ambiente, possuem corpos tubulares alongados, com a boca e o ânus em extremidades opostas. O corpo é essencialmente constituído por músculos e tecido conectivo, não apresentam esqueleto ósseo, mas possuem inúmeras placas calcárias que consoante a contracção dos músculos, dão maior ou menor consistência ao corpo. Apresentam texturas variadas desde rugosa a muito suave, e em cores cobrem todos os espectros existentes.
 Na grande maioria possuem os corpos cobertos de pequenos pés ambulacrários (apenas uma das 6 ordens que constituem esta classe não apresenta estas estruturas), que podem ter as mais diversas disposições na parede corporal. São animais de deslocação lenta, que recorrem tanto aos pés ambulacrários como ao movimento ondulatório do seu corpo, muito semelhante aos das lagartas, ou mesmo a movimentos natatórios.

São animais de crescimento lento que só atingem a maturidade entre os 5 e os 8 anos, podem, no entanto e consoante a espécie, atingir tamanhos consideráveis, variando o intervalo de tamanhos entre o 1 cm e os 5 m de comprimento.
O comportamento sedentário e o corpo mole da maioria das holotúrias coloca-as à mercê dos predadores, no entanto, elas desenvolveram substâncias químicas – toxinas, que os afastam, mas no arsenal defensivo das holotúrias estão também os tubos de Cuvier, uma estrutura filamentosa, extremamente adesiva e também de elevado grau tóxico, que são eviscerados quando as holotúrias são atacadas, molestadas ou simplesmente manuseadas. A evisceração é uma das suas mais particulares características, a outra é a sua capacidade de regenerarem os órgãos, vísceras e parte do sistema respiratório, que perdem com a evisceração.
Contudo, o que pode mais surpreender nesta classe dos equinodermes é o facto de algumas espécies fazerem parte da dieta alimentar de milhões de pessoas, nomeadamente no Japão, China e Coreia, desde há séculos, sendo considerado uma especialidade gastronómica utilizada nos mais variados pratos, mas são utilizados igualmente pela crença nas suas propriedades curativas e afrodisíacas.

Na verdade, cerca de 14 000 toneladas de holotúrias são descarregadas anualmente, a maioria das quais provenientes dos desembarques japoneses e coreanos de uma única espécie, que para além de pescada é igualmente criada em aquaculturas. As holotúrias constituem a base de uma indústria multi-milionária que processa a parede corporal destes animais e a comercializa.

Nem todas as espécies são comestíveis, e mesmo as que o são precisam de serem anteriormente preparadas.

As holotúrias podem ser consumidas em fresco (cru) ou em seco. Em seco, são conhecidas como Trepang (palavra de origem Malaia) ou Bêche-de-mer (uma adaptação francesa do nosso português bicho-do-mar), sendo considerado uma delícia gastronómica, utilizada em sopas e em pratos especiais. Depois de cozido, apresentam uma textura suave, cartilaginosa, quase transparente, absorvendo todos os sabores dos molhos e dos outros ingredientes.
Como se referiu, um dos motivos pelos quais os asiáticos consomem o Trepang é a crença nas suas propriedades curativas, as holotúrias são utilizadas medicinalmente pelos asiáticos, e em concreto pela medicina tradicional chinesa, no tratamento da artrite, de lesões dos tendões, ligamentos e articulações, em dores e inflamações musculares e no tratamento da hipertensão. Apenas nas últimas décadas do século passado, a medicina ocidental e os cientistas realizaram experiências no sentido de investigar a importância das holotúrias no tratamento da artrite e de outras doenças das articulações.
As holotúrias contêm as vitaminas A, C, algumas do complexo B, e alguns minerais, mas, e de facto, uma das suas mais-valias para os homens é o facto de serem uma fonte de mucopolissacáridos e de substâncias denominadas de GAGs – Glucosaminoglicanas, das quais se destaca o sulfato de condroitina, que é uma combinação de sulfato de glucosamina com açúcares.

A Glucosamina é uma forma de açúcar (amino-açucar) que se crê desempenhar um papel importante na formação e reparação de cartilagens. O sulfato de condroitina é parte de uma grande molécula proteica (proteoglicano) que dá elasticidade à cartilagem.

Estas substâncias têm sido extraídas de esqueletos externos de animais como a lagosta, o caranguejo ou o camarão, no caso da glucosamina e das cartilagens e traqueias de tubarões no caso do sulfato e já fazem parte de alguns suplementos alimentares e dietéticos.
Outra das mais valias das holotúrias são as suas toxinas, algumas espécies produzem toxinas de interesse farmacológico, e alguns compostos isolados até à data, exibem actividade anti-microbiana ou actuam como agentes anti-inflamatórios ou anti-coagulantes.
Os pescadores de algumas ilhas do Pacífico, por exemplo, utilizam as toxinas das holotúrias, algumas das quais inibidoras respiratórias para atrair os peixes e os polvos das rochas de forma a poderem ser mais facilmente capturados. Estes pescadores utilizam igualmente os tóxicos tubos de Cuvier como pensos rápidos em feridas que sangram.
Para além de serem importantes na nossa economia, as holotúrias assumem particular relevância em termos ecológicos, uma vez que são muito importantes na manutenção e melhoramento das condições dos ecossistemas onde se encontram. Como animais detrívoros em larga escala, são responsáveis pela reciclagem de cerca de 90% da biomassa dos fundos marinhos, além de que “arejam” o sedimento à semelhança do que as minhocas fazem com a terra.
Nota final:
Apesar de nenhuma espécie de holotúria constar na Lista Vermelha da IUCN, os exemplos de espécies ameaçadas a nível regional ou nacional devido à sobre-exploração dos stocks têm vindo a aumentar. Um destes exemplos de sobre-exploração vem do Arquipélago das Galápagos, em que a transferência do esforço de pesca do continente para as ilhas, em 1989, conduziu a uma redução dramática da população da espécie ali explorada – Stichopus fuscus até que em 1999 foi finalmente aplicado um plano de gestão das pescarias; outro destes exemplos é o da Baixa Califórnia cuja espécie explorada Isostichopus fuscus foi declarada, em 1994,em risco de extinção pelo Instituto Nacional de Ecologia do México.