sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Nuvens, quando o invisível se revela

Quando a humidade atmosférica se revela criam-se as nuvens, de suprema importância para a vida na Terra. Qualquer que seja a perspectiva com que as encaremos, uma visita ao mundo das nuvens é, quase por definição, apaixonante.


Nem mesmo nos desertos mais áridos, o ar é desprovido de humidade. Quando esta se torna visível, chamamos-lhe nuvem. As nuvens são simultaneamente causa e efeito de uma série de fenómenos atmosféricos e nessa medida, têm um forte impacto nas nossas vidas. Elas dizem-nos que roupa devemos vestir, se devemos usar óculos de sol e mesmo se devemos ficar em casa ou ir à rua.

A humidade existente no ar provém em cerca de 90% da evaporação dos oceanos. Sempre que uma massa de ar carregada de humidade arrefece, a água até ali no estado gasoso condensa em minúsculas gutículas ou cristais de gelo e torna-se visível.

Os fenómenos que estão na origem do aparecimento de nuvens são de origem diversa e podem actuar separadamente ou em conjunto, dando origem a nuvens muito diferentes umas das outras. De uma forma geral, a temperatura do ar vai diminuindo à medida que a altitude vai aumentando. Daí que sempre que uma massa de ar é, por qualquer motivo, impelida para cima, entra em contacto com um meio mais frio, levando a que a água em si contida se condense e forme nuvens. Existem várias razões para que o ar se desloque verticalmente. A convecção, resulta do aparecimento de correntes ascendentes, provocadas pelo aquecimento da superfície da Terra, que impelem o ar para cima e que podem originar nuvens. As nuvens frontais formam-se sempre que uma massa de ar quente se encontra com uma massa de ar frio: a primeira é empurrada no sentido ascendente e condensa, formando nuvens densas e até tempestades. Existem ainda, as nuvens orográficas, que como o nome indica estão intimamente ligadas ao relevo. Quando o vento, que não é mais do que ar em movimento, encontra no seu caminho montanhas, segue o declive ascendente até eventualmente atingir o ponto de condensação.

O nevoeiro é o caso particular de uma nuvem que se forma ao nível do solo e que por isso não está dependente de qualquer tipo de corrente ascendente. O nevoeiro forma-se quando o ar húmido entra em contacto com um solo que perdeu temperatura durante a noite ou, com uma massa de ar mais frio. Por esta razão, o nevoeiro é mais frequente em noites claras em que a superfície da terra perde mais calor, sendo provável que no dia seguinte o Sol dissipe rapidamente o nevoeiro e se constate o ditado português "manhã de nevoeiro, dia soalheiro". Como o ar frio é mais denso, também acontece que ao se precipitar em vales ou outras depressões, entra em contacto com ar húmido que condensa e dá origem a um nevoeiro ou bruma característicos.

As nuvens têm acompanhado a existência do nosso planeta desde a sua formação, mas apenas no início do sec. XIX é que os Homens se debruçaram sobre a sua classificação. A terminologia que ainda hoje utilizamos, baseia-se na proposta em 1803 pelo cientista inglês Luke Howard. Pelo facto das nuvens serem estruturas altamente dinâmicas que podem apresentar formas intermédias, mesmo com regras de classificação bastante claras, a atribuição de um determinado epíteto nem sempre é fácil.

A terminologia utilizada para distinguir as nuvens assenta fundamentalmente em dois critérios: a forma e a altitude. Quanto à forma, as nuvens dividem-se entre as Cumuliformes, que fazem lembrar algodão e as Estratiformes que se apresentam sob a forma de uma camada. Quanto à altitude, classificam-se as nuvens a cima dos 5000m como cirros e para tal associa-se ao restante nome o prefixo "cirro". Para as nuvens situadas entre os 5000 e os 2000 metros, acrescenta-se o prefixo "alto". Às nuvens baixas não se acrescenta qualquer prefixo. A estas designações pode ainda somar-se uma adjectivação mais completa, também com origem no latim, e que descreve aspectos particulares da forma ou da dimensão das nuvens. Através da conjugação, destes termos podem designar-se cerca de três dezenas de tipos diferentes de nuvens, mas as mais vulgares, começando de baixo para cima são os Cumulonimbus, Cúmulos, Estratos, Estratocúmulos, Altoestratus, Altocúmulos, Cirroestratus, Cirrocúmulos e Cirros. As nuvens cumuliformes assinalam frequentemente tempo instável com aguaceiros. As nuvens estratiformes, decorrem muitas vezes da aproximação de uma superfície frontal, e por consequência anunciam uma viragem do estado do tempo, muitas vezes para regimes de pluviosidade intensa.

Em comum a todas estas nuvens, há o facto de mais tarde ou mais cedo, acabarem por desaparecer de uma de duas maneiras: ou se dissipam, o que significa que a água volta por acção da temperatura novamente ao estado gasoso, ou se precipitam, dando origem a chuva, granizo ou neve. Este último é o cenário que decorre do aumento do tamanho das partículas de água que a constituem. Uma gutícula de água numa nuvem tem em média 0,02mm, que é uma dimensão tão ínfima que lhe permite que, por acção do atrito e das correntes ascendentes, se encontre suspensa. No entanto, se no seio da nuvem houver turbulência, as gutículas colidem umas com as outras dando origem a gutículas maiores, que podem ir dos 0,5 aos 6,35mm e que forçosamente se precipitam por acção da gravidade. A natureza dessa precipitação, água, gelo ou neve, vai depender da temperatura dentro e fora da nuvem.

Para alem de serem responsáveis pela precipitação, as nuvens protagonizam ainda outro fenómeno atmosférico ímpar: as trovoadas. Apesar da trovoadas acontecerem muito frequentemente (em cada momento existem entre 1500 e 2000 tempestades activas no globo, que produzem mais de 100 raios por segundo e que apenas nos Estados Unidos da América vitimam todos anos cerca de 100 pessoas), a maneira como estas se processam ainda não foi completamente decifrada. Desde as primeiras experiências do cientista americano Benjamim Franklin, no sec. XIX até aos dias de hoje, ficámos a saber que as trovoadas se devem a diferenças de polaridade dentro das nuvens, mas continua a ser surpreendente a força resultante dessas trocas eléctricas. Um raio, que pode ter um comprimento de 30 Km, viaja a 96 000 Km por segundo e pode atingir uma temperatura de 30 000º C, ou seja cinco vezes mais quente que a superfície do Sol.

Para além das suas implicações de carácter meteorológico, as nuvens acrescentam frequentemente à paisagem uma inegável valia estética e contribuem de forma ímpar para enriquecer o imaginário cultural e onírico de muitos. Quantos de nós não nos detivemos já a encontrar nas nuvens formas familiares? A isso chama-se "nephelococcigia".

As nuvens constituem ainda um aspecto visível de uma atmosfera em permanente movimento, e nessa medida são auxiliares importantíssimos na previsão tempo. Mesmo assim, os seus caprichos não cessam de nos recordar a nossa verdadeira dimensão.

Fonte: Naturlink

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